Crítica: “Vingadores: Guerra Infinita”

Muitas coisas podem ser consideradas surpreendentes neste novo Vingadores: o excesso de personagens não é um problema, a narrativa fragmentada não chega chega a ser episódica, a estrutura simples de sua trama é eficiente, assim como seu vilão, e acima de tudo, não dá para chamar o filme de bagunçado.

Por outro lado, há também uma dose de elementos que enfraquecem o filme enquanto Cinema, sendo a principal delas a falta de imaginação visual, a trilha quase onipresente que faz questão de comentar cada detalhe das cenas (embora as músicas façam um ótimo trabalho ao brincar com os temas de cada personagem), e, o que é mais decepcionante, a artificialidade de algumas decisões que tiram o impacto de momentos importantes.

A direção dos irmãos Russo faz bem ao filme. As cenas de ação possuem suas marcas, mesmo que por vezes fiquem um pouco confusas pelo excesso de câmera tremida, e os diretores fazem um ótimo trabalho em equilibrar os diferentes tons das franquias ali presentes: as cenas com os Guardiões da Galáxia, por exemplo, têm uma atmosfera bem mais bem humorada e leve do que as com Pantera Negra ou Capitão América.

E talvez o maior mérito do filme seja mesmo equilibrar tanta coisa ao mesmo tempo sem que o roteiro pareça uma bagunça, e para isso a trama de estrutura simples ajuda muito: basicamente, temos um personagem que precisa juntar vários artefatos mágicos, um de cada vez, para atingir seu objetivo. O roteiro não perde tempo com subtramas, nem parece preocupado em grandes questões artificiais para parecer mais sério.

O que nos traz ao vilão do filme, que também está entre seus maiores acertos. Claramente assumindo a posição de protagonista no roteiro (é ele quem precisa juntar os artefatos que move a trama), Thanos não só convence como uma grande ameaça a todos os heróis (e seus poderes que vão ganhando habilidades diferentes conforme a história avança, mesmo não explorados ao máximo, são fundamentais para manter um interesse crescente no personagem) como também desperta empatia no público por suas motivações e por algumas sugestões de fragilidade emocionais que, longe de enfraquecerem o personagem, fazem dele uma figura ainda mais convincente e, por consequência, mais ameaçador.

Contando com uma montagem digna de prêmios, que desde o início tem a dura tarefa de criar ritmo acompanhando núcleos de personagens em locais completamente diferentes trabalhando para a mesma história, o filme só falha mais seriamente em sua eventual artificialidade. Ao adotar poderes mágicos absurdos, onde tudo parece ser reversível e nada invariável, o roteiro meio que prejudica a si mesmo em seu desfecho (e não darei detalhes para evitar spoilers, mas acredito que quem assistiu ao filme saberá do que eu estou falando), ao apostar em terminar em uma nota melancólica, que merece créditos pela coragem e até mesmo pela eficiência dentro da própria lógica, mas que se prejudica por dar a impressão de que tudo que vimos pode ser mudado e talvez nada seja definitivo.

Nesse sentido, ironicamente, Guerra Infinita funciona muito melhor sozinho que os outros filmes do universo extendido do Marvel, mas é impossível não se enfraquecer ao pensarmos nas inevitáveis continuações.

Ainda assim, este é um filme bastante eficiente. Sinto muito a falta de momentos mais imaginativos do ponto de vista visual (como vemos nos dois filmes da série Guardiões da Galáxia com James Gunn, por exemplo), e tenho certeza de que daqui um ano não terá uma única imagem da qual eu me lembrarei deste filme pelo puro valor estético. Mas isso não desmerece a dificuldade em contar uma única história tão fragmentada de forma tão fluida e coesa. Nem tampouco diminui seu ótimo protagonista e vilão.

No fim, o gosto agridoce não é apenas para o que vimos acontecendo aos personagens, mas também pela sensação de que muito do impacto do filme se perde dentro de suas próprias qualidades. Mas ainda assim é um filme acima da média, divertido, e que gera interesse para sua continuação como poucos filmes do gênero conseguem.

3,5 Estrelas

João Vitor, 1 de Maio de 2018.

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